Nos tempos de hoje, onde o jornalismo acabou se reinventando por conta de toda a avalanche de informação e a proliferação das redes sociais, blogs (e suas variações: microblogs, videoblog, fotoblogs e afins), muita gente envolvida no meio acaba procurando o meio mais fácil de conseguir visibilidade. A pressa no ato de dar a informação – ainda que equivocada ou não totalmente apurada – substitui cada vez mais a chance de uma notícia “redonda”, com todas as fontes checadas, as duas versões ouvidas e, se for o caso, confrontadas.
Vivemos uma era onde os portais querem audiência, ainda que com matérias de gosto duvidoso, como um suposto vídeo de um famoso em um iate com modelos, ou de um famoso em ato de masturbação (!) em frente a webcam. Estamos nesta era. A era do vale-tudo midiático.
Quando não é isso, algumas pessoas se perdem na tênue linha entre o jornalismo e o blogueirismo. Que o diga o meu amigo Filipe Rangel. Jornalista da “Folha dos Lagos”, jornal de maior circulação de Cabo Frio, esteve no ginásio Vivaldo Barreto na última terça-feira para cobrir a decisão do campeonato municipal entre ADDP e Arraial do Cabo. Com a vitória por 5 a 2, a ADDP – clube do qual faço parte – sagrou-se hexacampeão cabofriense de futsal, um feito inédito e histórico para o clube que tem pouco mais de seis anos de existência.
Ao ver a matéria assinada pelo Filipe nesta quinta-feira na “Folha”, um susto, pelo menos, pra mim. Na matéria “Emoção no fim do Municipal de Futsal”, a menção sobre o título vem em um simples período na segunda frase do texto, resumida em “(…) O título ficou com a ADDP (…)”. Na maior parte do texto, nada que denotasse jornalisticamente a importância da conquista – minimizada em prol de repetir, por duas vezes no texto, sobre os erros da arbitragem.
Nada contra o Filipe ter a predileção pessoal dele para torcer pelo time que quiser. Nada também com o fato dele ter tido problemas pessoais de relacionamento com “um integrante da comissão técnica alviverde” (entre aspas, apenas repetindo textualmente o que ele escreveu na matéria, sem citar o nome da pessoa, o que denota uma profunda falta de tato ao generalizar algo que é pessoal e fácil de resolver, apenas identificando as pessoas).
O que me incomoda – ainda mais partindo de um camarada que eu gosto – é que houve uma mistura das estações. O Filipe pode torcer pra algum time? Claro que pode. Pode escrever um texto expressando suas opiniões? Claro. Mas não em uma matéria. Observemos o parágrafo abaixo (o grifo é meu):
“Os dois jogos finais, marcados por graves erros de arbitragem, também foram dos melhores do Municipal. No primeiro deles, empate em 2 a 2, com fortes reclamações de jogadores, membros da comissão técnica e torcedores do Arraial do Cabo, indignados com a arbitragem”.
Graves erros de arbitragem? Quais? A favor de quem? Por que não estão citados na matéria? Avaliados como “graves erros” por quem?
Vamos em frente:
“(…) As agressões não se repetiram, mas os erros da arbitragem voltaram a gerar reclamações nas arquibancadas. A expulsão de Peri, um dos principais jogadores do Arraial, foi bastante contestada“
Foi mesmo. E com justiça, diga-se de passagem, uma vez que o primeiro cartão amarelo que o atleta recebeu foi pra lá de discutível. Mas isso, em nenhum momento foi descrito na matéria, que, incompleta, deixa margem para que o leitor avalie que o texto (e/ou seu autor) está (estão) sendo tendencioso(s).
Quanto ao juízo de valor feito em toda a matéria, também é um direito de quem escreve. Mas ficaria melhor em uma coluna ou em um artigo, onde quem assina é responsável pelas suas opiniões. Respeito a opinião do Filipe Rangel, mas o texto foi, no mínimo, inoportuno.
Em tempo: qualquer pessoa pode achar o texto acima inoportuno. Mas aqui é o meu blog, eu assino e escrevo para emitir as minhas opiniões. Toda vez que eu escrevo aqui, tenho ciência de que o que escrevo é minha responsabilidade. E não transfiro a responsabilidade do que escrevo aqui pra ninguém.